Con-fio

Dois tijolinhos de cobre, duas sílabas, uma palavra que pode ser tanto a matriz dividida quanto a determinante unificadora. Quem assim vê o CON-FIO, considera apenas um resultado (reduzido e redutor), reificado, imóvel.

No entanto, o CON-FIO emerge de uma exterioridade movente, de um agenciamento, já coletivo e sempre em processo. Os fragmentos, que ora se conectam, ora se rompem, traçam linhas descontínuas, compondo relações imprevisíveis com direções, velocidades, tensões e consistências variadas. Produções que abandonam a palavra e a representação, transformando-se em inscrições móveis sobre corpos tornados nomes próprios como designações de intensidades que penetram umas nas outras.

O CON-FIO provoca uma articulação, uma segmentaridade, inserindo desordenadamente elementos, pessoas, estados de coisas supostamente impossíveis de se agregarem numa rede. Seus entornos são efêmeros e porosos, na medida que cada conexão indica uma abertura para novas multiplicidades. Assim, não há fechamento em torno de si próprio. Ao contrário, há transformação e dissipação dos limites, quando o CON-FIO permeia e é, ao mesmo tempo, perpassado por novos corpos. Trocas recíprocas sem equivalentes marcam estas trajetórias, cujas alterações o realimentam como uma criação coletiva. A superfície mutante desta criação que se pretende heterogênea, priorizando as relações e os movimentos, afeta o despotismo da Arte sustentado pelas noções de autoria e obra.

Jorgge Menna Barreto, agenciamento de matérias diversas com velocidades mensuráveis, torna-se uma espécie de usina produtora de possibilidades e de interferências que engendram fios numa trama de acontecimentos  e de inusitados percursos atravessados pelas práticas cotidianas. Trama sem princípio, nem fim. Tessitura formada [atualizada] por realizações e cruzamentos com a dinamicidade das linhas que, ao serem interceptadas, modificam-se sem parar, gerando novas composições.

O Remetente aparece como um dos locais de proveniência que enlaça Jorgge a outros dezessete nomes. Intermezzo, entre Laura e Tunga, rasga as ligaduras, precipita a irrupção de inúmeros componentes, profusão de singularidades…

Nós e linhas, fluxos e rupturas incitam diferentes percepções dos modos de relações e de inserções na realidade.

 

Porto Alegre, inverno de 1998

Gisele Gallicchio