[PT]
Fome de História: um cardápio decolonial para a Pedagogia das Sementes
Aperitivo
Apesar de parecer holandês, eu não falo holandês.
Essa frase me foi dita algumas vezes enquanto eu trabalhava atrás do balcão, servindo almoço para os residentes, funcionários e alguns frequentadores do restaurante da Jan van Eyck Academie, Maastricht, Holanda. A maioria das pessoas que me abordavam no balcão o fazia em inglês, já que essa é a língua corrente nessa instituição artística, onde a maioria dos participantes é estrangeira. De todo modo, o restaurante é aberto para o público. Uma vez por semana, havia uma senhora que vinha almoçar conosco, acompanhada por sua mãe, que eu suspeitava ter problemas de memória, já que ela sempre se dirigia a mim falando holandês. Ao invés de corrigi-la, eu respondia amigavelmente e com um sorriso no rosto: “Apesar de parecer holandês, eu não falo holandês”. Embora não compartilhássemos a mesma língua, nós compartilhávamos o senso de humor. Ríamos juntos, transformando a ausência de memória em uma dádiva, já que nos permitia rir com uma piada antiga como se ela fosse nova. A graça vinha pelo fato de eu não parecer em nada com um “holandês típico”. E como é um “holandês típico”? E por que eu não pareço holandês? E por que isso importa?
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[EN]
Hungry for History: a Decolonial Menu for the Pedagogy of Seeds
Aperitif
Even though I look Dutch, I do not speak Dutch.
That sentence was uttered a few times as I would stand behind the counter serving lunch to fellow residents, staff and occasional customers at the Jan van Eyck Academie cafeteria. Most people approached me speaking English, as that is more or less the official language in this art institution in the south of the Netherlands and its international body of participants. But the restaurant is open to the general public, and once a week there was a lady who used to come with her mother, the latter of whom I suspected had memory issues and would always speak to me in Dutch. Instead of correcting her, I would reply jokingly: “Even though I look Dutch, I do not speak Dutch.” Despite the fact that we did not share the same language, we did share a sense of humor. We would then laugh, turning the absence of memory into a blessing that would allow us to revisit an old joke as if it was fresh and new. The punchline was funny because I do not look Dutch. What do the Dutch look like? And why is it that I do not look Dutch? And why does that matter?