[PT]
Em Lugares Moles, o espaço, frequentemente entendido como mero suporte para que algo aconteça, se torna lugar do acontecimento. Foi esta pesquisa que esteve no eixo da dissertação de mestrado com trabalho de mesmo nome, de onde foi possível repensar novas abordagens do lugar nas práticas site-specific.
Diversos tabletes de manteiga se conjugam, formando arquiteturas improváveis. Sobre tais estruturas, bonecos e objetos de uso humano compõem cenas imaginárias. Os personagens, no entanto, se encontram estáticos. O espaço torna-se protagonista e determina a cena: aquecidos pela iluminação, os tabletes derretem, se desfazem, levam consigo os elementos ali dispostos.
O amolecimento dos lugares, por sua vez, não toca apenas o lado “de dentro” da cena. A moleza e fluidez também são modos possíveis de composição da obra. Os lugares que instaura não são dados a priori, mas constituem-se para se fazerem imagens fotográficas ou vídeos. Cada montagem acontece segundo suportes e ritmos diferentes: em fotografias ou em vídeos difundidos em diversos meios, compondo instalações, em stills fotográficos ou na tela de aparelhos eletrônicos.
Em 2022, a obra teve sua montagem mais recente, na galeria Various Smalls Fires, em Los Angeles, EUA. Mas talvez cumprindo a vocação do próprio título, Lugares Moles já esteve (e ainda está) em muitos lugares. Além desta última, foram 3 outras montagens físicas, todas em São Paulo – em 2006, no Paço das Artes; em 2007 na Galeria Baró Cruz; e em 2021, na Galeria Jaqueline Martins. Em sua exposição virtual permanente, se encontra no Youtube.
O título do trabalho surgiu inicialmente em inglês, Butter Architecture, mas foi vertido para o português de modo não literal, Lugares Moles, a partir de uma compreensão expandida sobre tradução: na passagem de uma língua para outra, novos sentidos se conquistam, alguns se renunciam. Houve aqui uma abertura para o caráter não estanque da linguagem. Um certo “deixar fluir” dos sentidos.
Cada montagem da obra, por sua vez, ao se compor de maneira diversa e em conjugação com outros trabalhos e outros contextos, ativa também uma flexuosa polissemia. Lugares Moles pode evocar, por exemplo, a elaboração de um canto cósmico e celebração da velocidade infinitamente lenta para o tempo humano da performatividade do espaço; mas pode também, tal na última montagem em Los Angeles buscou evidenciar, se erigir como um comentário crítico sobre o aquecimento global.
Primeira montagem da obra, no Paço das Artes, SP, Brasil – 2006
Exposição Inversão na Galeria Baró Cruz, São Paulo, Brasil – 2007
Dissertação de mestrado que dá nome ao trabalho, USP, Brasil – 2007
Texto de Fernanda Albuquerque sobre o trabalho – 2007 (PT)
Exposição Não vamos para marte, na Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, Brasil – 2021
Exposição Eco-art Work: 11 Artists from 8 Countries na Galeria Various Small Fires, Los Angeles, USA – 2022
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[EN]
In Butter Architecture, space, often understood as a mere support for something to happen, becomes the place of events. It was this research that was at the core of the master’s dissertation with a work of the same name, from which it was possible to rethink new approaches to place in site-specific practices.
Several butter tablets are combined, forming unlikely architectures. On these structures, dolls and objects for human use compose imaginary scenes. The characters, however, are static. The space becomes the protagonist and determines the scene: heated by the lighting, the tablets melt, fall apart, taking with them the elements arranged there.
The softening of places, in turn, does not only touch the “inside” of the scene. Softness and fluidity are also possible ways of composing the work. The places it establishes are not given a priori, but are constituted to make photographic images or videos. Each montage takes place according to different supports and rhythms: in photographs or videos broadcast in different media, composing installations, in photographic stills or on the screen of electronic devices.
In 2022, the work had its most recent montage, at the Various Smalls Fires gallery, in Los Angeles, USA. But perhaps fulfilling the vocation of the title itself, Butter Architecture has been (and still is) in many places. In addition to the latter, there were 3 other physical assemblies, all in São Paulo – in 2006, at Paço das Artes; in 2007 at Galeria Baró Cruz; and in 2021, at Galeria Jaqueline Martins. In its permanent virtual exhibition, it can be found on Youtube.
The title of the work initially appeared in English, Butter Architecture, but was translated into Portuguese in a non-literal way, Lugares Moles [Soft Places], from an expanded understanding of translation: in the passage from one language to another, new meanings are conquered, some are resign. There was an opening here for the non-watertight character of language. A certain “letting go” of the senses.
Each montage of the work, in turn, by composing itself in a different way and in conjunction with other works and other contexts, also activates a flexible polysemy. Butter Architecture can evoke, for example, the elaboration of a cosmic song and celebration of the infinitely slow speed for human time of the performativity of space; but it can also, as in the last montage in Los Angeles, sought to highlight, erect itself as a critical commentary on global warming.
First installation of the work, at Paço das Artes, SP, Brazil – 2006
Inversão Exhibition at Galeria Baró Cruz, São Paulo, Brazil – 2007
Master’s dissertation that gives the work its name (PT), USP, Brazil – 2007
Text by Fernanda Albuquerque about work – 2007 (PT)
Exhibition Não vamos para marte, at Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, Brazil – 2021
Eco-art Work: 11 Artists from 8 Countries Exhibition at Various Small Fires Gallery, Los Angeles, USA – 2022